sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

170 anos da fotografia no Brasil

Paixão nacional


Completando 170 anos em janeiro, a viagem que trouxe a fotografia ao Brasil é revelada em texto inédito na próxima edição da Revista de História.

Adriano Belisário

Sob as estrelas de uma noite de setembro, um navio francês saiu do porto de Paimboeuf para uma viagem em volta da Terra. O ano era 1839 e o tripulante mais ilustre não era nenhum aventureiro que viria desvelar o Novo Mundo com sua prosa. O grande destaque da viagem era o daguerreótipo, um aparelho recém-inventando que chegou ao Brasil e traduziu em imagens aquilo que antes o mundo só via através das palavras dos naturalistas europeus.
A aventura da chegada da fotografia no país será contada em detalhes na edição de janeiro da Revista de História da Biblioteca Nacional. Formada em História e Arquitetura, a pesquisadora Maria Inez Turazzi publicará um texto inédito sobre a viagem do navio Oriental, que acabou naufragando, não sem antes deixar maravilhados os brasileiros com a invenção de Louis Jacques Daguerre.
“Em menos de nove minutos, o chafariz do largo do Paço, a praça do Peixe, o mosteiro de São Bento e todos os outros objetos circunstantes se acharam reproduzidos com tal fidelidade, precisão e minuciosidade, que bem se via que a coisa tinha sido feita pela própria mão da natureza e quase sem a intervenção do artista”, relatava o Jornal do Commercio de 17 de janeiro de 1840.
A autora conta ainda a apresentação da nova máquina a D. Pedro II e suas irmãs. A recepção foi tão boa que um dos tripulantes do navio resolveu ficar pelo Brasil para explorar o invento comercialmente. Tamanho sucesso, porém, não impediu do navio Oriental ter sido relegado ao esquecimento por muito tempo, possivelmente por ter falhado em sua missão principal, muito por conta de disputas internas.
“Desde então, esta controvertida expedição ficou submersa em completo esquecimento, sem referência nos anais da história marítima francesa, embora os registros de bordo do Oriental tenham retornado à França. A iniciativa de trazê-la à tona demorou mais de um século, mas seu alcance foi limitado pela dificuldade de se juntar todas as peças desse quebra-cabeça”, explica a autora do texto.

Imagens mil

Retratado em uma das primeiras fotos do daguerreótipo em terras tropicais, o Paço Imperial passará por uma experiência semelhante em janeiro do ano que vem, quando se completam 170 anos da chegada da fotografia. Se São Pedro colaborar com um sol no dia 16, o fotógrafo Francisco Moreira da Costa irá realizar um processo completo de foto em daguerreótipo no local. Na parte da tarde, o evento contará ainda com o debate “Do analógico ao digital”, com a presença de Maria Inz Turazzi; Pedro Afonso Vasquez, fotógrafo e pesquisador; e Maria de Fátima Moraes Argon, coordenadora técnica do Museu Imperial.
A proliferação de cliques nos dias atuais também é abordada no dossiê especial da Revista de janeiro de 2010. O texto do jornalista Lorenzo Aldé discute a compulsão pela criação de imagens e seus novos padrões estéticos, como as fotos tremidas ou borradas.
“O purismo também tem sua versão contrária à tecnologia digital. Há quem diga que é um erro conceitual até mesmo chamar as máquinas de “câmeras”. Afinal, de câmeras elas não têm nada. O termo se refere à câmera escura responsável por fazer entrar a luz na máquina tradicional, projetando-a no filme. Um processo químico que não existe no reino dos pixels. No mais, as críticas se concentram na questão da qualidade: fotografia analógica tem mais “profundidade e volume”, algo semelhante à perda sentida pelos amantes do vinil em relação à música digital”, relata.
Seja em placas metálicas ou em píxeis, as imagens são cada vez mais soberanas na forma como apreendemos o mundo. No aniversário de 170 anos da fotografia no Brasil, o presente da Revista de História será revelar ao público a história desta paixão. Não perca!

FONTE:
http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2835