sábado, 6 de março de 2010

Rede de Produtores Culturais da Fotografia

A Aranha e a Mosca

Clic!o Barroso Filho

Dentre as inúmeras excelentes iniciativas que surgem neste ano de 2010 para promover e inserir de vez a Fotografia brasileira no cenário cultural do país, certamente a criação e organização da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil [RPCFB] é destaque.


Como já explicado no post “Rede de Produtores Culturais da Fotografia”, a proposta é fazer uma pesquisa quantitativa e qualitativa das ações que fomentam a cultura da fotografia em todas as regiões do Brasil.

O que nos traz esperança e nos enche de otimismo.

O principal motivo de satisfação é perceber que há uma vontade imensa de união, de troca, compartilhamento. Um engajamento proativo, interessado, curioso e entusiasmado, que vai do Rio Grande do Sul a Roraima, com insuspeitados eventos fotográficos acontecendo nos lugares mais improváveis, mais longínquos, que revelam talentos e demonstram uma força crescente da nossa jovem fotografia, livre de vícios e dogmas.

Mas por outro lado, há com o que se preocupar.

Tentativas passadas, antigas e recentes, sempre esbarraram nos mesmos problemas: falta de verbas, falta de espírito de união (poucos trabalham e muitos reclamam), panelinhas de “chefias” onde todos querem mandar e todos se acham notáveis.

Falta de maturidade?

Egocentrismo?

O que me faz lembrar da revista Interview, criada e editada pelo artista pop Andy Warhol, que conseguiu inventar uma espiral ascendente de promoção de egos: uma dúzia de articulistas que falavam bem dos outros onze, em uma simbiose múltipla que produziu um dos primeiros círculos viciosos de marketing pessoal bem sucedido, e que logo foi erroneamente alcunhado de “círculo virtuoso”.

Certamente um círculo vicioso não é o que se deseja com esta rede; a descentralização, a estrutura estrelar que pretende envolver todo o país em suas longas pontas, a democratização das idéias e o colaboracionismo já se fazem sentir na atual e sempre crescente lista de participantes, hoje em número de 100, e que tem expectativas (de amplo espectro) afins, mas que resguarda e respeita as especificidades, particularidades e regionalidade de cada um deles. E isso sim pode ser um círculo virtuoso, uma espiral ascendente.

A supressão dos interesses pessoais em prol de resultados que beneficiarão a todos é condição sine qua non para o sucesso da rede, e como consequência arrisco aqui a expressão que é um aparente oxímoro: “fotógrafo rico”.

Aparente pois se trata de uma falsa contradição, posto que as atividades de fotografia identificadas pela rede tem demonstrado um universo riquíssimo de cultura, de idéias, de pessoas excepcionais. E os recursos financeiros necessários para que isso se solidifique vão surgindo naturalmente, válvulas de escape de uma energia que por muito tempo esteve represada.
Sim, a nossa teia pode ser neural, de sinapses, uma rede brilhante e interdependente, onde todos os seus nós tem a mesma importância, e não necessariamente ser aquela teia tradicional, antiga, analógica e pensada como armadilha, onde a aranha sempre come a mosca.
Que não haja moscas nem aranhas; que haja apenas a rede, polissêmica e rica como a Fotografia.
 http://bit.ly/alBGFt