J FRANÇA o fotógrafo do PROTESTO NA RAMPA faleceu semana passada
Brasília 1984 - Câmeras no chão. Todos os fotógrafos e cinegrafistas
que cobriam o Palácio do Planalto fizeram este gesto de rebeldia
diante do presidente da república, quando ele descia a rampa do
Palácio numa terça-feira de 1984. Um único fotógrafo com a câmera no
rosto, José de Maria França, do outro lado da rampa fez a foto. Ele
foi o escolhido por seus colegas manifestantes para registrar esta
cena para a história.
Final do governo Figueiredo: começo do fim do regime militar. Faltava
menos de um ano para a eleição do sucessor do general João Baptista
Figueiredo Numa audiência de Figueiredo com o “presidenciável” Paulo
Maluf, o presidente estava visivelmente mal humorado. Ao ver que
alguns fotógrafos já se encontravam dentro do gabinete presidencial,
Maluf disse a Figueiredo, “Sorria Presidente”! E o presidente
respondeu: “estou na minha casa e fico como eu quero”. Ao retornarem
ao comitê de imprensa, os fotógrafos que presenciaram aquela cena
passaram a informação aos repórteres de texto e aquele diálogo, no
mínimo engraçado, foi para a primeira página dos principais jornais do
país. Ao ler as manchetes na manhã seguinte o presidente irritado
disse que não houve tal diálogo e que os fotógrafos eram mentirosos.
Em represália, Figueiredo proibiu o acesso de qualquer fotógrafo ou
cinegrafista ao seu gabinete.
Por esse motivo foi realizado ato de protesto: no momento em que
Figueiredo descia a rampa, todos os fotógrafos e cinegrafistas
colocaram as suas câmeras no chão diante do presidente e não
fotografaram o acontecimento. O fotógrafo do Jornal do Brasil J.
França, foi escolhido pelos colegas para fazer a foto do protesto e
distribuir para todos os jornais. O protesto virou noticia nacional.
Andre Dusek
MILTON GURAN enviou a seguinte mensagem sobre o J. FRANÇA:Convivi com J. Franca na cobertura politica em Brasilia, e participeiepisodio em que ele fez a sua fotografia mais importante, entre tantas belas imagens que nos legou. J. Franca era sereno e corajoso,consciente e solidario, um profissional competente. Por isso foiescolhido para registrar o momento em que os jornalistas enfrentaramde publico o ultimo geral do regime em defesa da liberdade deimprensa. A fota saiu perfeita, simples, diretar, contundente, J.Franca nao era de perder pauta. Com a sua maneira simples de ser, aolargo das vaidades, fica na nossa memoria como exemplo de reporter e de ser humano.